segunda-feira, 26 de novembro de 2007

FLAMENGO 2 X 0 ATLÉTICO-PR

O jogo começou antes, bem antes. Para quem, assim como eu, sofre em demasia com os dias que antecedem uma grande partida, nada melhor que uma vitória consagradora para transformar cada minuto de angústia em alegria em estado puro. Não terão os fanáticos que passaram madrugadas atrás de um ingresso uma belíssima história para contar pelo resto de suas vidas? A minha história pode não ser tão bela assim. Por certo, é muito extensa para descrevê-la em detalhes. Mesmo assim apresentarei, sem a precisão das datas, os acontecimentos prévios e a conseqüente onda rubro-negra que começa no Maraca, toma conta e embeleza a cidade. Narro sob o meu ponto de vista, é claro, pois além de compartilhar a história com os amigos, quero mesmo é guardá-la para mim:
- Começam a vender os ingressos para Fla x Santos e Fla x Atlético-PR. Minha idéia era comprar logo os dois; o Gustavo me oferece uma inteira para o jogo do Santos. Aceito e deixo o Atlético para depois.
- Antes da vitória contra o peixe, o tribunal decide fechar os portões para o próximo jogo. Eu amaldiçôo o Assefinho e, principalmente, o babaca que tacou uma latinha no juiz no jogo contra o Grêmio.
- E não é que o Assefinho vira o jogo? Tento ver se a decisão do tribunal foi correta. Descubro: corretíssima. Saio espalhando por tudo quanto é blog esportivo as provas de que o Flamengo seria punido injustamente. Não houve manobra jurídica, isso aqui não é vasco.
- Não vou comprar na bilheteria. O Gunabara é aqui do lado e será mole trocar as latinhas de Neston na promoção dos ingressos.
- Saio de casa sete e meia da manhã, a fila do Gunabara está em frente à minha rua. Não sou bom em precisar distâncias, mas posso dizer que o supermercado é de grande porte, quase uma quadra inteira. A fila começa na porta, atravessa o pátio, ganha a rua, cruza um posto de gasolina, passa por uns três prédios e chega na minha rua. Tento me convencer por duas horas de que conseguirei pegar os ingressos e ir trabalhar. Desisto às nove e meia.
- À tarde, o Jean dá o notícia: caos nos pontos de troca, cancelaram tudo e a troca acontecerá no Maraca no dia seguinte. Sem me dar conta da insanidade, planejo acampar no Mario Filho às quatro da manhã para garantir os ingressos.
- Volto à razão no feriado. É a hora de abrir mão de estar no Maracanã. Ano que vem tem mais. Porque os filhos da puta não lançam o carnê?
- O Alexandre me liga para dizer que o cunhado tem ingressos para galera. Com ágio. Hesito. Não queria pagar mais, porque fui a quase todos os jogos. Flamengo e Figueirense, na chuva, eu estava lá. Decido não ir.
- Mudo de idéia. Considero justo compensar o cara pelo perrengue que passou na fila. Na verdade, o problema não era o preço. Eu já tinha me convencido de que não deveria ir. O Flamengo ganharia sem mim. Depois que consegui ficar filosoficamente sereno com a situação, ganho uma opotunidade para comparecer ao Maraca? Sei não... Torço para não me arrepender, pois com essas coisas não se brinca.
- Durmo mal para cacete de sábado para domingo.
- Deixo o carro na UERJ no dia do jogo. Levo a parte dos esportes do Globo. Lembro de comprar o Lance, pois tenho levado jornais para ler no Maracanã enquanto a partida não começa e tem dado sorte. Desço a São Francisco Xavier até chegar no posto Ipiranga, onde encontro o diário esportivo. Agora a vitória está mais garantida. Não sou supersticioso, mas com essas coisas não se brinca.
- Encontro os camaradas no Russo. Uma cervejinha para manter a tradição.
- O sol dessa vez não castiga. Mesmo assim, mais umas cervejas para aliviar a espera.
- O telão mostra lances clássicos do Mengão. Rondinelli, Zico, Junior, Pet... Quanta história já foi escrita; quanta história há para se escrever...
- O gordinho entra com a bandeira do Zico. O mala já faz parte do folclore daquele setor da arquibancada.
- Cerveja.
- Tudo começa a dar certo: gol do Inter. Cabecinha comemora de um jeito esquisito, mas tá valendo.
- Começa o jogo e o Flamengo toma a iniciativa. Leo Moura aparece bem. Tento prever o gol do Leo Medeiros e quase acerto: a bola vai na trave. Se entra, eu ia ficar me gabando por pura picaretagem, pois no fundo eu imaginei ele pegando uma daquelas bolas que sobram.
- O Souza tá bem também!
- Mais cerveja enquanto o ritmo do jogo cai.
- É intervalo e já anoiteceu. Nos juntamos para discutir o papel do Flamengo na vida de cada um. Com cerveja, é claro. Alguém compara o sentimento pelo Flamengo com o amor devotado à mãe. Na comparação do cara a mãe ganha, mas o placar é apertado.
- Renato Augusto é outro no segundo tempo. O moleque, assim com no estadual, mostra mais uma vez personalidade em um momento decisivo. Infelizmente o gol foi do outro lado... Provável culpa do Claiton Instalação Trocada. Mas a galera de lá também merece ver os gols de perto.
- Estou com uma lata de cerveja na mão no segundo gol. Bêbado, nem tanto pelo álcool, mas pela euforia, lembro da camisa oficial que tenho que comprar. Prometi comprá-la quando nos classificássemos para Libertadores. Quase comprei antes, mas o André foi taxativo ("Espera!") ao me aconselhar a cumprir a promessa do jeito que ela foi feita. Essa frase é mas dele do que minha: Com essas coisas não se brinca.
- Já repararam como o Souza tá fazendo bem pra caramba essa função de pivô?
- Alguém se antecipa ao placar e anuncia o gol do Sport. O telão confirma. Não falta mais nada para a noite ser perfeita. Tenho certeza absoluta de que não há celebração alguma em qulaquer parte do mundo que se compare à festa da torcida do Mengão na arquibancada.
- Damos um tempo ainda no estádio. Me lembro da camisa. Saio em disparada para o shopping. O Jean acha que não vou conseguir chegar a tempo.
- Deixei o carro equivocadamente no pátio que dá para a São Francisco Xavier. Para piorar, estou com uma puta vontade de mijar. Ainda assim, chego ao Iguatemi às 20hs e 55 min.
- Encontro a loja aberta. Pergunto pela camisa do Flamengo. Acabou e só deve chegar na terça-feira. Não posso esperar tanto.
- Chego em casa. Tiro as coisas do bolso e vejo o ingresso dentado na tarja magnética. A Nestlé foi a grande vilã da semana, mas tenho que concordar com a frase que ela estampou: Torcer faz bem.
- Antes de apagar vejo a mensagem do André no celular. Pelo teor, aposto que ele foi dormir tão eufórico quanto eu. Se é que dormiu.
- Hoje, na hora do almoço, lá estava a camisa do Flamengo me esperando. Comprei. O nome da loja é Fanáticos por Futebol. Eu não sou fanático por futebol. Sou fanático é pelo Flamengo!

Flamengo: Bruno; Leonardo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim e Juan; Jaílton Cristian (Roger), Léo Medeiros (Obina) e Ibson; Renato Augusto (Hugo Colace) e Souza. Técnico: Joel Santana
Atlético-PR: Viáfara; Danilo, Antonio Carlos (Marcelo Ramos) e Rhodolfo; Jancarlos, Valencia, Claiton, Netinho (Edno) e Michel (Ramon); Ferreira e Alex Mineiro. Técnico: Ney Franco
Local: Maracanã, Rio de Janeiro/RJ
Árbitro: Wilson Luiz Seneme
Auxiliares: Ednilson Corona e Emerson Augusto de Carvalho
Cartões amarelos: Jaílton e Renato Augusto (Flamengo). Ferreira, Alex Mineiro, Claiton e Danilo (Atlético-PR).
Gols: Renato Augusto, aos 4 minutos; e Juan, aos 16 minutos do segundo tempo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Me diverti muito com seu texto, meu amigo! Uma forma bem humorada de contar a história toda! E foi perfeito! Foi como realmente aconteceu e quem lê, sente a emoção, a vibração, a tensão!
E Flamengo é isso tudo!!!
Olha só, domingo, churrascão, hein! Abraço!
www.flagol.blogger.com.br

Anônimo disse...

É, meu amigo...
Seu texto está brilhante. Entendo bem o conteúdo pois compartilhamos da mesma emoção, embora devido a compromissos profissionais eu não possa comparecer aos jogos com a mesma frequência que vc. Tenho uma "inveja saudável" em virtude disso.
Sobre a rodada, aconteceu tudo que queríamos e havíamos conversado antes. Ter de decidir a vaga em Pernambuco poderia ser complicado, principalmente pq não teríamos a força proveniente das arquibancadas do Maracanã.
Ótimo!! Pra gente já é Natal, estamos fortíssimos na mídia, apagamos a presença do fluminense na Libertadores (quem sabe isso não influencia a diminuir os lucros e a consequente injeção financeira da Unimed?)e temos boas perspectivas pro próximo ano, pois parece que a diretoria está se organizando e desempenhando corretamente seu papel fora das quatro linhas.
Aproveito também para parabenizá-lo por sua atuação na arquibancada e por ter me dado ouvidos, seguindo fielmente as promessas. Lembra quando fiz o enorme sacrifício de ficar um mês sem beber antes da final da Copa do Brasil em 2006? Resisti até quando o time praticamente selou a conquista no primeiro jogo. Foi duro mas dei a minha cota de sacrifício. E vc sabe, com essas coisas não se brinca... rsrs
Um grande abraço.